OS SAPATINHOS FURADOS
(Autora: Aline Francis)
NARRADOR: Clarinha era
uma menina muito doce e querida por seus familiares. Ela gostava de ajudar sua
avó em casa e era muito educada.
Vivia em um lar com
muito amor e carinho. Mas havia algo em Clarinha que ninguém sabia. Uma
tristeza que teimava morar no seu coração.
Mesmo sendo uma menina
tão boa, alguns amiguinhos gostavam de rir da Clarinha.
(Clarinha aparece em
cena, olhando para os lados, procurando alguém)
CLARINHA: Ufa! Ainda bem
que não tem ninguém aqui. Acho que hoje posso comer o meu lanchinho sem ficar
triste. (Abaixa a cabeça,
fazendo alguns sons como o início de um choro) Poxa vida, eles sempre riem de
mim. Riem de mim todos os dias. Fico tão triste, e
ninguém percebe. (Olha para as crianças) Ei! Vocês já se sentiram assim? Você!
(Como se dirigisse a alguma criança em específico) Já se sentiu triste e
não contou para ninguém? (Ela suspira) Ahhh, isso é tão ruim. (Ela começa a
comer seu lanche).
(Aparece Dorinha)
DORINHA: Achei ela! Tá
aqui!
CLARINHA: (triste) Ahhh
não, lá vem eles…
(Entram em cena Vivi e
Juca rindo de Clarinha. Beta os acompanha, mas não entra na zoação)
CLARINHA: Parem com
isso! Vocês me deixam muito triste, sabia?
DORINHA: Mas é
engraçado, oras.
CLARINHA: Engraçado por
quê? Não estou vendo graça de nada aqui. (para as crianças) Vocês estão achando
alguma coisa engraçada? Viu só!
VIVI: Ah, mas crianças
não sabem do que estamos rindo.
DORINHA: Então vamos contar
para elas!
JUCA: Vamos!
JUCA, VIVI: Vamos,
vamos, vamos.
CLARINHA: Não! Por
favor! Eles também vão rir de mim!
DORINHA: Mas você não
disse que não tem graça? Por que está com medo?
CLARINHA: Não contem,
por favor! Por favor! Por favor!
JUCA: Eu vou contar!
Crianças, prestem atenção no Juquinha.
CLARINHA: Não!
VIVI: Conta logo, Juca.
CLARINHA: Por favor, não
faça as crianças rirem de mim!
JUCA: Era uma vez a
menina dos sapatinhos furados! (mostrando bem a Clarinha)
TODAS OS OUTROS
PERSONAGENS: Ahahahahaha….
CLARINHA: Isso não tem
graça!
DORINHA: Tem sim! (para
as crianças) Vocês não acham engraçado uma menina que só usa sapatinhos
furados?
(Nesse momento Clarinha
começa a chorar, e os outros personagens vão tentando convencer as crianças a
rirem dela)
CLARINHA: Parem, por
favor! Eu vou embora, vocês não gostam de mim.
VIVI: Gostamos sim! Você
é a menina dos sapatos furados!
(Todos riem novamente
dela e Clarinha sai muito triste, cabisbaixa e chorando. Os outros personagens
esperam ela sair, e vão saindo logo em seguida, rindo entre si)
NARRADOR: (Clarinha
volta e fica em cena) Naquele dia Clarinha chegou em casa muito mais triste do
que nos outros dias. Não bebeu nem o suco que sua avó preparou.
Ficou quietinha no seu
canto, chorando muito. Ela tinha apenas um par de sapatos. Um par de sapatos
furados. Morava com sua avó, que não podia comprar outros sapatinhos pra ela.
(A avó entra em cena)
VOVO: Clarinha, o que
houve, meu amor? Por que você está tão tristinha assim?
CLARINHA: Ah vovó, não é
nada.
VOVO: Como nada? Está
chorando e não é nada? Você é sempre tão feliz, a alegria dessa casa.
(Clarinha abraça a avó)
CLARINHA: Vovozinha, eu
te amo tanto. Não quero te deixar triste.
VOVO: Você vai me deixar
triste se não contar o que está acontecendo.
CLARINHA: São as
crianças da escola, vovó.
VOVO: O que tem as
crianças?
CLARINHA: Eles ficam
rindo de mim porque eu uso sapatos furados (ela começa a chorar, as duas vão
saindo de cena abraçadas enquanto o Narrador fala).
NARRADOR: Enquanto isso,
na volta para casa, Vivi e Beta falavam sobre o que tinha acontecido. Para uma
delas, aquilo não estava muito certo.
BETA: Vivi, você não
acha que a Clarinha ficou triste de verdade?
VIVI: Ah, eu não me
importo.
BETA: Puxa, que feio
isso! Você não se importa em ver outra pessoa triste com algo que você fez?
VIVI: Beta, ela ficou
triste porque não tem outros sapatos, não foi com o que a gente disse. Eu tenho
muitos sapatos, não tenho porque ficar triste.
BETA: Mas se você tem
tantos sapatos assim, por quê não dá um para ela?
VIVI: Eu não vou dar
meus sapatos! Eles são meus! Meu pais compraram para mim!
BETA: Vivi, eu queria te
contar uma história que ouvi ontem à noite dos meus pais.
VIVI: Que história?
BETA: Vem, sente aqui.
Vou aproveitar e contar para as crianças também.
VIVI: Então conta, estou
curiosa!
BETA: Era uma vez um
homem que vinha de uma cidade chamada Jerusalém e ia para outra cidade chamada
Jericó. No meio do caminho ele encontrou dois ladrões que bateram muito nele e roubaram tudo
o que ele tinha. Aquele homem ficou muito machucado e sem nenhum dinheiro. De
repente passa por aquele caminho um sacerdote.
Vocês sabem o que é um
sacerdote? (resposta das crianças)
É uma pessoa muito
importante que cuidava das coisas de Deus e poderia ajudar aquele homem. Mas o
sacerdote não parou. Não se importou com o homem todo ferido e jogado no chão.
Seguiu seu caminho sem olhar para trás. Passou então pelo caminho um levita.
Quem aqui sabe o que é
um levita? (resposta das crianças)
Levita era a pessoa que
ajudava o sacerdote. Essa pessoa também poderia ter ajudado aquele homem que estava
ali sozinho.
O que vocês acham que
ele fez? (Resposta das crianças. Se elas responderem que ajudou, começar a
frase dizendo que
não. Se elas responderem que ele não ajudou, concordar com elas) Ele nem ligou
para o ferido. Seguiu seu caminho sem olhar para trás. E agora, (fala para Vivi)
o que você acha que aconteceu com o homem roubado?
VIVI: Ele morreu?
Crianças, vocês acham que ele morreu? (resposta das crianças)
BETA: Não, Vivi. Passou
por ele um samaritano, um bom samaritano.
VIVI: E o que é um
samaritano?
BETA: Lembram que eu
disse que o homem que foi roubado vinha de Jerusalém? O samaritano vinha de
Samaria, um lugar que não gostava muito das pessoas
que viviam em Jerusalém.
VIVI: Ahh, então o
samaritano nem ajudou o homem, não é?
BETA: O que vocês acham,
crianças? (espera as crianças responderem)
BETA: Acontece que o bom
samaritano ajudou aquele homem!
VIVI: (espantada)
Ajudou?
BETA: Sim, Vivi. Quando
ele viu aquele homem todo ferido, sentiu muita vontade de ajudá-lo. Lhe deu
algo para beber, o alimentou, cuidou de suas feridas.
Depois o colocou em seu
cavalo e o levou até uma pensão, deu algumas moedas ao dono da pensão e pediu
que cuidasse muito bem daquele homem.
VIVI: Uau! E por que ele
fez isso?
BETA: Por amor ao seu
próximo. Independentemente de sua cor, sua religião, se tinha dinheiro ou não,
se era bom ou ruim, ele não se importou e quis cuidar daquele homem. Agora
pense nessa história e em nossa amiga Clarinha. Você continua não se importando
com ela?
(Vivi vai para um canto
e pensa um pouco, resmungando partes da história)
BETA: Vivi, Clarinha
também não tem condições de ter sapatinhos novos. Ela é como aquele homem que
ficou ali na rua. Não tem dinheiro, e está triste e machucada com as nossas
brincadeiras.
VIVI: Puxa, Beta. Estou
muito envergonhada de tudo o que fiz. Em vez de rir dela e deixá-la triste, nós
devíamos tê-la ajudado. Sinto muita vergonha por ter rido da Clarinha.
BETA: Eu também me senti
assim quando meus pais me contaram essa história ontem, mas tive uma ideia para
melhorar isso.
VIVI: E o que é?
BETA: O que você acha de
irmos à casa dela agora mesmo e nos desculparmos?
VIVI: Isso!
BETA: Então vamos!
(Vivi para)
VIVI: Ca-calma aí.
BETA: O que foi? Não me
diga que desistiu?
VIVI: Não! Tive uma
ideia ainda melhor. Vou doar uns sapatos para a Clarinha!
(As duas se abraçam e
seguem para a casa da amiga)
(Aparece Clarinha em
cena com a avó)
CLARINHA: Vovó, a
senhora acha que eu devo ficar de mal dos meus colegas?
VOVÓ: Clarinha, papai do
céu ensina que nós devemos perdoar nosso próximo e amá-los como amamos a nós
mesmos. Se você ficou triste, peça a papai do céu que tire essa tristeza do seu
coraçãozinho e perdoe seus coleguinhas.
CLARINHA: A senhora está
certa! Além do mais, eu gosto deles e não quero ficar sem falar com eles.
(Vivi e Beta chegam e
batem palmas)
CLARINHA: Ih vovó,
chegou visita. Quem deve ser?
VOVÓ: Vamos saber agora
(risos)! Podem entrar!
(Vivi e Beta entram.
Vivi traz uma sacolinha na mão)
VOVÓ: Olá, vocês são
amigas de escola da Clara, não é?
BETA: Sim, somos.
VOVÓ: E pela carinha de
vocês, acho que vieram fazer algo muito importante aqui. Acertei?
VIVI: Sim. Clarinha,
isso aqui é para você!
CLARINHA: O que é isso?
BETA: Viemos te pedir
desculpas por tudo o que dissemos e que te entristeceu.
VIVI: E aí estão alguns
sapatinhos que trouxe para você, porque me sinto envergonhada de ter rido de
você em vez de te ajudar.
CLARINHA: Isso não é uma
brincadeira?
AS DUAS: Não!
BETA: Você nos desculpa?
VIVI: Queremos ser suas
amigas de verdade!
CLARINHA: Ahh meninas,
desculpo sim! Claro que desculpo! Fico muito feliz que estejam aqui!
(As três saem eufóricas,
rindo e felizes)
VOVÓ: Viram crianças?
Amar o seu amiguinho, respeitá-lo e aceitar suas diferenças são os ensinamentos
que papai do céu deixou para nós. Ah, e perdoar também, porque perdoar é
amar. Vocês gostaram da nossa
historinha? (esperar a resposta das crianças) Então contem para seus amiguinhos
que não estão aqui hoje. Vamos fazer um acordo? A partir de agora vocês serão nossos agentes do
bem. Vocês ficarão responsáveis por ensinar seu pais, irmãozinhos, coleguinhas,
a todo mundo, a historinha que contamos aqui hoje. Contamos com vocês! Um beijo
e tchauzinho!